segunda-feira, fevereiro 13, 2006

fragmento3


Num dia de qualquer ano,
num ano de qualquer século,
em minhas plenas faculdades físicas e mentais
e assumindo quanto digo e escrevo, declaro:
Que me declaro culpado
Culpado de tudo que não fiz,
de tudo que nao vi e nao ouvi,
das palavras que nao disse no tempo certo
e de outras que nunca aprendi
Me preocupei com coisas que jamais aconteceram
E passei minha vida em lugares equivocados em horas equivocadas, com pessoas equivocadas
Declaro:
Que cheguei tarde a todos encontros,
que não estive antes em parte alguma,
que encontrei a primavera florida,
a terra repartida e o céu prometido
Que tudo que tenho é menos do que me falta,
que o que acreditava, não acreditei depois,
e que cometi o pior dos erros
sonhei um mundo de pesadelos
Declaro também,
que não existe nada mais certo
que o nosso passar pela vida,
nem nada mais falso que nossa vida passada
Que feliz é aquele que não quer nada,
que não sabe nada,
que não se pergunta nada,
e que não se dá conta de nada
Que de uma mão estremecida pode cair o amor
que existe nela, que tudo o que não se dá
não se acumula, se perde
Que todos somos, ao fim e ao cabo,
escravos de algum vicio ou de alguma virtude
Que fui fiel somente a minhas duvidas,
e que a mulher mais livre que conheci
ta amarrada ao coração de um homem.


Kerotati

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