sábado, outubro 21, 2006

fragmento38


Gosto de pensar as pessoas como dádivas para mim...
Já vêm embrulhadas, algumas lindamente e outras de modo menos atraente.
Algumas foram danificadas no correio, outras chegam por encomenda especial.
Algumas estão desarmadas, outras hermeticamente fechadas.

Mas o invólucro não é a dádiva e essa é uma importante descoberta.
É tão fácil cometer um erro a esse respeito, julgar o conteúdo pela aparência.

Às vezes a dádiva é aberta com facilidade.
Às vezes é preciso a ajuda de outros,
talvez porque tenham medo, talvez tenham sido magoados antes,
talvez porque não queiram ser magoados de novo.
Pode ser que tenham sido abertos e depois jogados fora.
Pode ser que agora se sintam mais como “coisas” do que como “pessoas humanas”.

Sou uma pessoa como todas as outras, também sou uma dádiva.
A Vida encheu-me de bondade que é só minha.
E contudo, às vezes, tenho medo de olhar dentro do meu invólucro,
talvez tenha medo de me desapontar, talvez não confie no meu próprio conteúdo.
Ou pode ser que nunca tenha realmente aceitado a dádiva que sou.

Todo o encontro e partilhar de pessoas é uma troca de dádivas.
Minha dádiva sou eu; a tua és tu.
Somos dádivas um para o outro.

kerotati

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